16 junho 2009

O WALKMAN

Todo mundo vê um desses todos os dias: fone plugado no ouvido e olhar perdido, ele emite um som que fica entre o "pxxx pxxx pxxx" e o "tsss tsss tsss". Do lado de lá, o chiado é o que sobra para o mundo da música favorita dele, o olhar perdido é fruto da imersão e o som está bem alto. Se daqui ele tem jeito de zumbi surdo, de lá é o mundo que parece dormente e mudo. As pessoas podem ser divididas entre quem ouve música no talo e quem ouve o ruído gerado pelo vazamento do som - que, diga-se, é bem irritante. No metrô de São Paulo, nos vagões que têm televisão, uma campanha pede aos usuários que controlem o volume do toca-MP3 para não incomodar o resto do mundo. Para a pessoa com fone de ouvido, esse resto do mundo tem um quê de cenário; a música, é trilha sonora; e ele, bem, é o protagonista. O tocador de música portátil, esse dispositivo capaz de transformar o dia em uma espécie de trecho de filme, virou ícone dos ensimesmados e símbolo desta geração que supostamente sofre de excesso de individualismo.Acontece que a ideia de submergir em uma trilha sonora individual tem 30 anos. Já atravessou, portanto, algumas gerações - provavelmente cada uma delas, a do walkman, a do discman ou a do iPod, foi acusada pela anterior de ser individualista demais.O walkman foi lançado em 1979. Anunciado em 21 de junho, começou a ser vendido no Japão em 1º de julho. Já havia toca-fitas portáteis. Mas eram mais usados como gravadores; eram caros; e os fones, pesados demais para serem levados por aí.O fone perdeu peso - foi de 400 para 50 gramas - e suas funções foram limitadas. Agora ele tem o objetivo específico de carregar, para onde você fosse, as suas músicas favoritas. E tornou-se cool.Para que isso acontecesse, a Sony fez uma campanha sagaz: fazia apenas dois anos que o movimento punk marcara o exato momento em que a moda passava a ser ditada pelas ruas, e não mais vice-versa. A Sony, então, colocou jovens com fones nos ouvidos para andar por bairros como Ginza, em Tóquio, até hoje berço de tendências. Daí foi só esperar. Um ano depois, o walkman já era febre nos EUA.
por Heloisa Lupinacci, de O Estado de S. Paulo

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